terça-feira, 6 de setembro de 2011

Adolfo Caminha- Abolicionista e Republicano




Quando o cearense Adolfo Caminha publicou o romance Bom-Criulo, no ano de 1895, ninguém, no Brasil, nem talvez no mundo, ouvira falar em Sigmund Freud e somente nesse mesmo ano apareceria o Estudo Sobre o Hipnotismo, que a rigor, não pode sequer ser considerado ponto de partida da futura teoria da Psicanálise e da sua conseqüente implicação nos fenômenos da sexologia.
No campo da Inteligência, discutia-se no Brasil, e sempre em tom polêmico, Romantismo versus Realismo -Naturalismo, com fartas citações de Zola, Flaubert e todos aqueles franceses cujas idéias renovadoras chegavam ao público brasileiro menos ilustrado por via do culto quase devoto a Eça de Queiroz.
Adolfo Caminha,
para usar uma síntese, foi naturalista. Diria: um naturalista puro. Do romantismo da sua geração herdou a tuberculose que o mataria com menos de trinta anos de idade.
Ao ingressar na Escola da Marinha, com dezessete anos incompletos, Adolfo Caminha, como bom cearense, já trazia a marca do sofrimento, que é a vespera da revolta. Nascido no Aracati- a mais tradicionalista cidade do Ceará, em 1867, mal fizera dez anos, assiste à grande seca de 77, perde a mãe, e é enviado para Fortaleza, aos cuidados de parentes que não conhece. E, quase em seguida, vai para o Rio de Janeiro, morar com um tio, que o educa e o encaminha para a carreira de oficial da Marinha. Estava selado o destino. Não que Adolfo Caminha revelasse vocação de marinheiro. Mas porque, na juventude que frequentava a escola, o fermento da rebeldia e da insubordinaçã, que seu espírito inquieto e doído, logo se converteria numa espécie de convite, à la Nietzsche, para viver perigosamente. Não era apenas lá fora, na corte e nas províncias, que fervia o movimento abolicionista e republicano. Os alunos da escola dele participava abertamente, realisticamente, corajosamente, fiéis ao modelo por que optaram na Literatura e na Arte. Tanto assim que o aluno Adolfo Caminha, orador de uma homenagem que a escola prestava a Victor Hugo, e na presença solene e patriarcal de Pedro II, fez sua profissão de fé abolicionista e republicana, confesando-se, ativamente contra o anacronismo da Escravidão e do Império.

SUA PRIMEIRA DENÚNCIA IRIA FICAR SEM EFEITO

Nâo obstante o episódio de temeridade e ousadia, é declarado guarda-marinha em 1885 (novembro) participado, no início do ano seguinte, da viagem de instrução ao Estados Unidos. O cruzador Almirante Barroso, que primava pelo asseio e pela disciplina, não lhe transmitiria o gosto e o entusiasmo pelo oficialato, mas iria se converter no veículo ideal para seu aprendizado de insubordinação e revolta. Nessa viagem, não nasceria somente o segundo livro de Adolfo Caminha-No país dos Ianques. Germinaria também, em seu espírito a semente do seu grande romance Bom-Crioulo.
Cedo se abriu entre ele e a carreira o abismo da chibata. Não se concebia, realmente, que o jovem oficial, abolicionista, republicano, presenciasse impassível ao castigo infamante. E o silêncio para ele se tornaria mais infamante que o próprio castigo. Confessa -No País dos Ianques- com a coragem que o acompanharia pela vida: O meu primeiro passo ao deixar a escola e envergar a farda de gaurda-marinha foi publicar um protesto contra essa pena infamante, e fi-lo desassombradamente, convicto de que sobre mim ia cair a odiosidade de meus superiores; em geral apologistas da chibata.
E as cenas da brutalidade do castigo que avilta e corrompe em vez de corrigir vêm descretas, pelo futuro romancista, em toda a sua crueza, como impressão mais forte da viagem.


Texto extraído de - Espiral: Revista Literatura Nº 2- (1996)- João Clímaco Bezerra



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